28 de set. de 2009

A verdadeira pátria

Quando gravou "A foreign sound", Caetano Veloso disse que o cancioneiro estadunidense é o melhor do mundo. Fiquei decepcionado com a declaração. Foi um despautério, um absurdo- inclusive em relação à sua própria obra. É o eterno complexo de vira-latas do brasileiro. Razão tem Jorge Aragão, quando diz que "sabemos agora/ nem tudo que é bom vem de fora".

Não sou patriota, muito menos ufanista. Sou internacionalista, dentro de minha opção política. Penso como H. G. Wells (foto): "nossa verdadeira pátria é a humanidade".

Agora, temos naturalmente uma afinidade, uma ligação especial, com este solo: foi aqui que nascemos, aqui que temos raízes. Essa ligação faz com que optemos, em muitas situações, por aquilo que é nosso, mesmo que o nosso não seja em verdade superior ao deles. Mas preferimos, porque é nosso. Nosso vinho é amargo mas é nosso vinho, disse um poeta cubano. Por ser nosso, apesar dos pesares, é-nos preferível a qualquer outro. E não há mal nenhum nisso.

Mas tal opção "nacional" para mim é sempre relativa. Entre uma Bolívia explorada e uma Petrobrás exploradora (que adquiria gás natural, de um país onde mais da metade da população vivia abaixo da linha da pobreza, por preços abaixo do mercado), fico sem sombra de dúvidas com a Bolívia. Igualmente, reconheço que o Brasil tem uma dívida histórica para com o Paraguai (Solano López começou a guerra, mas nossa reação foi verdadeiro joguete do imperialismo britânico) e não me importaria se a Venezuela forçasse a revolução bolivariana (abstraindo o fato de uma revolução não poder ser forçada) fronteiras brasileiras adentro. Também acho o povo cubano mais heróico que o brasileiro. Aliás, não acho o brasileiro (salvo lampejos esporádicos) um povo heróico.

Coloquemos assim: gostamos de nosso País- mas esse patriotismo (caso chamemos esse sentimento de patriotismo) deve ceder diante de valores maiores.

A pátria é grande, mas o mundo é mais.

6 comentários:

  1. no complexo de vira latas brasileiro, hahahaha, adorei, mais uma pro dicionário! HC

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  2. Questão super árdua! Muitos são os ditados populares que tratam dessa valorização do que não é nosso, do que vem de fora. Veio com a etiqueta " made in USA" "made in Japan" " Made in Italy" já vale mais que ter "sido feito no Brasil" tem q ser "Made in Brazil".
    E também não tenho discurso ufanista, mesmo apaixonada pela Língua Portuguesa, sou professora de Inglês e entendo que não apenas o Brasil,mas é intríseco do ser humano valorizar o que é longe.

    Exemplos?

    Vai uma morena nortista bonita numa praia do Sul e ver o que acontece?
    Ou vem uma gaúcha com traços alemães para o Norte e Nordeste?

    É o diferente, o importado, enfim...

    Mas nesse âmbito o que vale, na minha humilde conclusão é o bom senso.
    Se sou do Sul vou dizer q as gaúchas loiras de olhos azuis são lindas se conheço uma morena sem igual e a loira minha vizinha é feia pacas?

    Se amo música brasileira e de repente toca uma jazz cantado por Diana Krall, Norah Jones , Carole King e só por isso são melhores que Bebel Gilberto ou Badi Assad(mais conhecidos fora do Brasil)?

    Defendo o que é da minha terra com qualidade, o que não é daqui eu penso: defendo pois é do meu planeta, sim pertencemos a um mundo, não a uma linha demarcatória:)

    by the way, dá uma lida www.marlaalcantara.blogspot.com

    Abraço

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  3. Pois é, posso falar de forma "neutra", porque não sou nem um pouco nacionalista. O que acho é que, se algo é melhor que nosso correspondente nacional, deve sê-lo por ser efetivamente melhor, e não simplesmente por ser estrangeiro.

    Mas o brasileiro tem disso, é o "complexo de vira-latas" que cito. Lá fora nossas referências ainda são carnaval e futebol. Qualquer loiro de olho azul falando inglês e ei-nos subservientes.

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  4. A caipirinha, o futebol, o carnaval, as mulheres exóticas e fáceis...nossa como isso me causa revolta.

    Porém conheço muita gente de fora do Brasil que conheceu e se apaixonou por Bossa Nova.E consegue até analisar, falar deste e daquele disco. Bossa toca em muitos filmes internacionais e causa curiosidade, Tom, Vinícius, Toquinho fizeram inúmeros shows fora do Brasil, agora peça a um brasileiro comum(q termo estranho), quero dizer, classe média, Ensino Superior, enfim....muitos não conseguem listar nem 10 músicas de Bossa Nova,eles começam na Garota de Ipanema, engatam uma chega de saudade e algumas poucas que as novelas de Manoel Carlos coloca de abertura.

    E sim, qualquer loiro de olho azul causa atenção, sempre gostei de conversar com estrangeiros pela pratica do idioma e poder falar de cultura,escrever depois e as pessoas com suas malícias, diziam: tá pegando o gringo? e eu dizia:NÃO!

    A resposta comum era:como vc é boba,eles amam brasileiras!

    Isso me causa bobagem, vc tem q se prostrar a alguém de outra nação. Simplesmente acho válida a oportunidade de poder comparar as realidades nacionais com as de fora,e sim Brasil pode tá desmoronando,mas tem MUITA coisa errada nas terras do além...
    Seja lá o que for, nacionalistas ou não. Acho tudo isso restritivo, o Brasil tem mil brasis dentro de si, logo...o planeta tem muuuitas coisas pra se adorar e reclamar.

    hihh

    :)

    Abraço

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  5. Mas o que eu vejo no geral não é bem um interesse (como você tem, eu também) por outras culturas, outros povos. Realmente conhecer alguém de fora é fascinante, pelas múltiplas possibilidades que surgem, de conhecimento, de troca de informações, aprendizado.

    Mas o que eu vejo, em regra, é mesmo o espírito de "inferioridade". É isso que eu critico.

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  6. é, isso não tenho mesmo.Jamais me senti inferior a alguém de outro país, fosse da América, da Europa, África, pelo contrário sempre falei das problemáticas brasileiras e exaltava(sem exageros) nossas maravilhas: culinária, música, arte(design, arquitetura), dança...etc.

    E como amo falar, debater, interagir, no geral as pessoas se encantavam.

    A tal inferioridade que você fala é certa: "Ele é de fora...ooooohhhhhhhhhhhh"

    " Ele veio dos Estates...(ahahha) oooohhhhhhhhhhh"

    "Essa fragrância é de uma marca internacional(e dae? pode ser uma "bosta")

    Compartilho de tua opinião.

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