28 de jun. de 2006

O ingovernável

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A imagem que erroneamente nos é imposta de Henry David Thoreau é a de um misantropo, um ermitão, avesso a qualquer contato humano. Ao ler o "Rebelde de Concord", biografia escrita por August Derleth, essa imagem se desfaz: temos um homem culto, dotado de boas relações (amigo pessoal de Emerson!) e que ganhava a vida como palestrante. Inimigo das instituições criadas pelo homem, mas não do próprio. E, por ser inimigo de tais instituições, optou por viver em um reino à parte.

Como não compreender Thoreau? Como não considerar como mais intensa, mais viva, mais -em uma palavra- verdadeira a vida em uma cabana de bosque, às margens de um lago? Por que optar por esse ideal bucólico soa estranho? Thoreau quer ser deixado em paz. Tributos, leis, eleições, um emprego, governantes, isso tudo soa estranho aos seus ouvidos.

22 de jun. de 2006

Revolução permanente

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"É por este motivo que Stálin precisava vê-lo morto: porque o poder nas mãos do manipulador vai ao extremo da morte, e o estilo dialético é vida, portanto, um inimigo", diz Nicholas Mosley ("O assassinato de Trotsky"). Decerto "dialética" é um adjetivo adequado à personalidade do camarada Lev Bronstein: dono de raciocínio claro, amante do debate, às vezes contraditório, de fina erudição. Figura ímpar da Revolução de Outubro. Em John Reed ("Os dez dias que abalaram o mundo"), não raro temos a impressão de tê-lo como da mesma importância que Lênin. Criador do Exército Vermelho, nos anos desesperançados de guerra civil e intervenção estrangeira. Não obstante, foi vítima da máquina burocrática stalinista: em meio a um turbilhão de calúnias e difamação, ei-lo riscado dos anais da História.

19 de jun. de 2006

Terra dos homens

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Dessa obra de Exupéry, Sartre disse capaz de levá-lo às lágrimas. Se tem tal efeito sobre um existencialista - gente nauseada da vida-, o que dirá de almas mais sensíveis e impressionáveis. Trata-se de uma ode ao ser humano, e a frase de Guillaumet, "o que eu fiz, palavra que nenhum bicho, só um homem, era capaz de fazer..." é a condensação desse espírito. Em tudo, há algo nobre; de cada ocorrido, pode-se extrair algo de útil. E os cenários que servem de pano de fundo para essas meditações! A noite do Saara, o Estreito de Magalhães, uma tenda de beduínos, os Andes chilenos, Túnis, um forte no meio do nada, um trem repleto de poloneses, um porão de anarquistas na Espanha- impossível, se tivermos em mente que são reminiscências reais, enfim, passar por essa leitura incólume.

15 de jun. de 2006

Henry Miller

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Retratar a própria vida como um romance é uma tarefa interessante. Árdua, eu diria, constrangedora, às vezes maçante. E foi isso que Henry Valentine Miller (1891-1980) fez, em seus romances autobiográficos. Há muita fantasia, decerto- e o próprio admitiu isso, mas nada que reduza em importância o esforço hercúleo que é transformar fatos banais do dia a dia em fonte de instigação mental alheia.


Caso eu me dedicasse a uma tarefa do tipo, a primeira dificuldade -entendo- seria de ordem ética. Teria eu o direito, afinal, de transformar as pessoas ao meu redor em personagem de romance? Pode-se trocar os nomes, naturalmente, mas aqueles tornados personagens involuntários fatalmente se reconheceriam ali- e seria fácil ferir suscetibilidades assim. E não deixaria de ser, no mínimo, uma indelicadeza e indiscrição com tantas confidências e idiossincrasias particulares tornadas públicas.

Ainda o drama palestino

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Assim como as notícias sobre violência urbana nas grandes cidades tendem a não causar mais maiores comoções, a opinião pública mundial parece já estar anestesiada com as notícias que chegam do Oriente Médio- e não me refiro ao Iraque ocupado e jogado à anarquia. Falo da Palestina, aquela terra dita "santa", onde tudo parece ser milimetricamente urdido para impedir a emancipação de um povo.