28 de jun. de 2006

O ingovernável


A imagem que erroneamente nos é imposta de Henry David Thoreau é a de um misantropo, um ermitão, avesso a qualquer contato humano. Ao ler o "Rebelde de Concord", biografia escrita por August Derleth, essa imagem se desfaz: temos um homem culto, dotado de boas relações (amigo pessoal de Emerson!) e que ganhava a vida como palestrante. Inimigo das instituições criadas pelo homem, mas não do próprio. E, por ser inimigo de tais instituições, optou por viver em um reino à parte.

Como não compreender Thoreau? Como não considerar como mais intensa, mais viva, mais -em uma palavra- verdadeira a vida em uma cabana de bosque, às margens de um lago? Por que optar por esse ideal bucólico soa estranho? Thoreau quer ser deixado em paz. Tributos, leis, eleições, um emprego, governantes, isso tudo soa estranho aos seus ouvidos.

E eis um fragmento da bíblia, "Desobediência Civil": "A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de fazer a qualquer tempo aquilo que considero direito". A lei, prossegue ele, jamais tornou os homens mais justos, daí porque não se deve dar à lei o mesmo valor que damos ao Direito; e temos então uma lição de Filosofia Jurídica, elementar mesmo, onde aprendemos que lei e Direito não se equivalem, ao contrário, não raro se excluem. A lei que deve ser seguida, mostra Thoreau, é a da consciência, a dos valores mais caros ao ser humano.

Foi livre não apenas na vida como no fim. Suas últimas palavras, no leito de morte, já no delírio dos instantes fatais, "índio" e "alce" – como isso é poético! – retratam o espírito selvagem, no melhor sentido da palavra, que partia. Acaba por ser, Thoreau, um pai espiritual de toda uma linhagem de libertários. Foi contemporâneo de Marx e influenciou, no século seguinte, Gandhi na independência inglesa.

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