19 de jun. de 2006

Terra dos homens

Dessa obra de Exupéry, Sartre disse capaz de levá-lo às lágrimas. Se tem tal efeito sobre um existencialista - gente nauseada da vida-, o que dirá de almas mais sensíveis e impressionáveis. Trata-se de uma ode ao ser humano, e a frase de Guillaumet, "o que eu fiz, palavra que nenhum bicho, só um homem, era capaz de fazer..." é a condensação desse espírito. Em tudo, há algo nobre; de cada ocorrido, pode-se extrair algo de útil. E os cenários que servem de pano de fundo para essas meditações! A noite do Saara, o Estreito de Magalhães, uma tenda de beduínos, os Andes chilenos, Túnis, um forte no meio do nada, um trem repleto de poloneses, um porão de anarquistas na Espanha- impossível, se tivermos em mente que são reminiscências reais, enfim, passar por essa leitura incólume.


Todavia, em Exupéry no Saara há um aspecto sombrio: acaba por ser um representante do colonialismo. Os beduínos em cuja tenda os personagens da obra dialogam, que eu cito acima, preparam um levante contra o invasor francês. Exupéry, que nos dá tão belas páginas, pertence a um povo de invasores. Talvez possamos notar sua simpatia pelos colonizados -em outra hipótese não lhes dedicaria o afeto expresso na obra- mas não deixa de ser perturbador, ao menos curioso, que o justo direito de autodeterminação dos povos, ou qualquer reflexão nesse sentido, passe em branco.

Não obstante, é dos meus livros favoritos: recomendo-o sem pestanejar.

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