24 de jul. de 2006

Cordialmente

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Coloco o coração como o centro de convergência da força humana. Ali, condensam-se as energias cruciais, ancestrais, primitivas, atávicas, essenciais, e também os orgasmos, os delírios, os sabores, as sensações, os ódios, os amores, os impulsos, as pulsões, os sonhos- e o que vem desse cadinho guia nossos passos, controlado, ou não, por aquela outra grande força, a do intelecto. O homem, então, é razão e emoção, num (des)equilíbrio duvidoso. Se fosse possível dizer isso, seria o coração o lar simbólico do id; é ali, e não na mente, que nosso lado animal tem lugar. O coração é fonte de poder: e isso era sabido pelos primitivos, ao comer o coração dos inimigos de guerra.

6 de jul. de 2006

Contágio

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Garaudy diz que a poesia é contagiosa. A arte é sagrada quando não nos deixa intactos, prossegue ele, de modo que no mergulho poético há o perigo de perda, de destruição, de transformação de fragmentos do ego, que serão devidamente substituídos e transformados em algo novo. O poema destrói em um primeiro momento o leitor, para reerguê-lo em seguida: e o que renasce não é o de outrora. Com efeito, que dizer de uma peça artística que nenhuma influência cause no receptor? Foi produzida debalde, perdeu-se.

Pego um livro de poemas, antigo, um tanto amarelado. Meu pai deu-me há dez anos, vejo pela dedicatória no frontispício, e já era na época um livro de segunda mão. Pego-o porque se trata de poesia contagiosa, não é um livro qualquer: abalou-me sobremaneira e ainda abala, e assim será. Falo do "Eu" de Augusto dos Anjos, poeta sobre o qual Olavo Bilac, ao ouvir alguns versos, disse que "fez bem em morrer, não se perdeu grande coisa", Augusto dos Anjos, cuja obra foi comparada com ouro, mas "ouro desperdiçado, ouro mal aplicado".