Chamar alguém de "prostituto" é muito sério. Tradicionalmente é um dos adjetivos mais degradantes, principalmente quando se refere às mulheres. A prostituição tem uma pecha social muito forte: no Nordeste é dito que o medo dos pais é o de que seja homossexual o filho e piranha a filha (o medo não é, portanto, de que sejam viciados, criminosos, hipócritas ou vis: e sim de que disponham do próprio corpo como bem quiserem, o que deveria ser um direito inalienável do ser humano). A prostituta está tão entranhada no inconsciente da cultura judaico-cristã, que tradições ocultistas a associam à Sofia ("sabedoria"), prostituta e santa, e lembremos também da discípula direta, Madalena. Penso eu que o tabu da prostituta tem raiz longínqua, no surgimento da sociedade de classes, quando a mulher, assim como o bem, tornou-se propriedade privada. Nesse sentido, a prostituta, que não é propriedade de ninguém, simbolicamente é uma revolucionária; mas é uma vítima, por outro lado, quando é prostituta por falta de condições objetivas que lhe permitissem optar por outros rumos de vida, ou quando essa mesma cultura judaico-cristã a maltrata, a espezinha, a violenta -em mais de um sentido- por essa opção (ou falta de).
Mas não é sobre prostituição que quero falar. O que eu ia dizendo é que acusar alguém de se prostituir é uma ofensa grave. Que dizer quando isso é falado do próprio filho? Pois isso foi dito em plena Vara de Família: ao se levantar ao término da audiência, o pai -sujeito asqueroso até na aparência- resmungou com seu advogado, alto o suficiente para que todos na sala ouvissem: "-Até quando vamos cafetinar o garoto?". Quem tem cafetão é prostituta. Ao ser condenado (provisoriamente) a pagar alimentos ao filho (meu cliente), maior de idade -mas ainda cursando faculdade- o pai se colocava como cafetão, e o rebento, por dedução lógica, como garoto de programa. Era uma afronta: que eu, como advogado, tomei para mim.