28 de set. de 2009

A verdadeira pátria

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Quando gravou "A foreign sound", Caetano Veloso disse que o cancioneiro estadunidense é o melhor do mundo. Fiquei decepcionado com a declaração. Foi um despautério, um absurdo- inclusive em relação à sua própria obra. É o eterno complexo de vira-latas do brasileiro. Razão tem Jorge Aragão, quando diz que "sabemos agora/ nem tudo que é bom vem de fora".

Não sou patriota, muito menos ufanista. Sou internacionalista, dentro de minha opção política. Penso como H. G. Wells (foto): "nossa verdadeira pátria é a humanidade".

Agora, temos naturalmente uma afinidade, uma ligação especial, com este solo: foi aqui que nascemos, aqui que temos raízes. Essa ligação faz com que optemos, em muitas situações, por aquilo que é nosso, mesmo que o nosso não seja em verdade superior ao deles. Mas preferimos, porque é nosso. Nosso vinho é amargo mas é nosso vinho, disse um poeta cubano. Por ser nosso, apesar dos pesares, é-nos preferível a qualquer outro. E não há mal nenhum nisso.

20 de set. de 2009

A chicotada na mesmice

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Leio sobre Claude Debussy: ao compor uma cantata, teve a obra execrada no meio musical, que lhe apontou vários defeitos. Isso levou o compositor a dizer: "Por fim escrevi algo original!".

O original é tomado por "errado", por "imperfeito", pelo mundo acadêmico, o mundo "oficial". Não é só Debussy, não é só a música que passa por isso: todo inovador recebe a pecha de "não presta" por parte das "autoridades" da matéria.

As autoridades são reacionárias. Cheiram a passado. O papel da arte deve ser a ruptura, justamente, com o passado. Maiakovsky, no poema "Verlaine e Cézanne", ao dialogar com o pintor, diz

16 de set. de 2009

Um conselho (e talento se constrói?)

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-Que conselho dá aos jovens escritores?
-Bebam, fodam e fumem muitos cigarros.

-E para os velhos escritores?
-Se o cara continua vivo, não precisa de meus conselhos.

(Charles Bukoswki, foto, "Numa fria")

*

Tanto Henry Miller quanto Van Gogh batem na tecla: quem quer ser artista (escritor, no caso de um, pintor, no de outro) deve sê-lo, sem mais. E mostraram isso na prática. Miller por exemplo diz que havia um tempo em que ele pensava ser artista; agora, já não pensa, é, e isso em um momento de profundo desespero e fracasso profissional (o fundo do poço retratado no "Trópico de Câncer"). Mas ele é artista, isso que importa, mesmo que o mundo diga contra. Também Van Gogh nos mostra, em suas "Cartas", sua luta para melhorar, sua insistência. O resultado já sabemos.

11 de set. de 2009

Fotos suas

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Tenho um lado gótico. Atrai-me a temática chuvosa, nebulosa, sombria da vida. Não que eu seja depressivo (apesar de ter, naturalmente, meus momentos): gosto da estética, não do ser. A forma, e não a essência. É uma paixão às vezes incompreendida. Por exemplo, tempos atrás, no orkut, coloquei um retrato daquele outro sombrio, Baudelaire, com os célebres versos "Gloire et louange à toi, Satan, dans les hauteurs/ Du Ciel, où tu régnas, et dans les profondeurs/ De l'Enfer, où, vaincu, tu rêves en silence!/ (...)". Vieram me perguntar se eu era satanista...

Bem, o lado gótico da vida é extremamente rico- e poético. Não por acaso já falei aqui de meu contágio por Augusto dos Anjos, outro dos poetas malditos, que como ninguém soube retratar o aspecto down do cotidiano. Os românticos e os simbolistas (além de Augusto, que não era de escola alguma, "isso de escola é coisa pra medíocres", disse falando dele Órris Soares) são pura poesia gótica, depressiva, mística, sombria.

8 de set. de 2009

O pop não poupa ninguém

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Tenho o fetiche da "primeira vez": acho que aquilo que inaugura tende a marcar pra sempre. Vale pra tudo, primeiro beijo, primeira mulher, livros, contatos sociais ("a primeira impressão é a que fica!") e, obviamente, discos. Milhares de experiências se passarão, sempre haverá, forte na memória, a primeira. Sou com orgulho um saudosista.

Aí do lado está a capa de "O papa é pop", de 1991, meu primeiro contato com a música. Antes eu já ouvia, claro. Lembro com saudades (olha o saudosismo aí) das canções dos anos 80, o chamado BRock, que em pleno século XXI é até hoje insuperável. Mas é diferente. Os anos 80 estão em mim, de modo indelével, mas me atingem de forma quase inconsciente, vaga, onírica. Nasci em 78, afinal de contas. São músicas que acompanharam a infância e, se hoje lembramos com carinho, na própria infância não se esquenta muito com isso.

7 de set. de 2009

Paulo Leminski

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Abaixo, meus poemas favoritos de Paulo Leminski (1944- 1989):

*

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.


2 de set. de 2009

Conciliadores? Abaixo!

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Os versos abaixo são versos de tempos de lulismo, de Sarney e Collor. Escrevi rapidamente; não é preciso muita inspiração para bater nos conciliadores.

Os versos atacam os comunistas conciliadores. Lula não é comunista, claro. Mas há comunistas (!) que apóiam Lula, contra toda evidência, contra toda teoria e contra toda práxis. Mas 8 anos de Lula fizeram um favor para a esquerda, a verdadeira esquerda- separou joio do trigo, deixou claro quem é quem.