7 de set. de 2009

Paulo Leminski

Abaixo, meus poemas favoritos de Paulo Leminski (1944- 1989):

*

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.




*

(para a liberdade e luta)

me enterrem com os trotskistas

na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração

na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão


*

(erra uma vez)

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez


*

(Iceberg)

Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos


*

Viver de noite me fez senhor do fogo.
A vocês eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse eu mesmo carrego

*

Tem outros, depois boto aqui.

3 comentários:

  1. ahh..o melhores de leminski, nem são esses....


    e claro que é tudo ficcão
    qualquer semelhança com a realidade é pura semelhança

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  2. Alguns dias sem passar por aqui e quanta novidade!! Fiquei na dúvida em qual post comentar hj. Tive que fazer aquela brincadeira “minha mãe mandou eu escolher este daqui!” (rs)... Paulo Leminski... são ótimas poesias, adorei todas, de muito bom gosto. Vou deixar uma dele pra vc:

    “quando chove,
    eu chovo,
    faz sol,
    eu faço,
    de noite,
    anoiteço,
    tem deus,
    eu rezo,
    não tem,
    esqueço,
    chove de novo,
    de novo, chovo,
    assobio no vento,
    daqui me vejo,
    lá vou eu,
    gesto no movimento”

    =(Abraços)= Marli

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