16 de set. de 2009

Um conselho (e talento se constrói?)

-Que conselho dá aos jovens escritores?
-Bebam, fodam e fumem muitos cigarros.

-E para os velhos escritores?
-Se o cara continua vivo, não precisa de meus conselhos.

(Charles Bukoswki, foto, "Numa fria")

*

Tanto Henry Miller quanto Van Gogh batem na tecla: quem quer ser artista (escritor, no caso de um, pintor, no de outro) deve sê-lo, sem mais. E mostraram isso na prática. Miller por exemplo diz que havia um tempo em que ele pensava ser artista; agora, já não pensa, é, e isso em um momento de profundo desespero e fracasso profissional (o fundo do poço retratado no "Trópico de Câncer"). Mas ele é artista, isso que importa, mesmo que o mundo diga contra. Também Van Gogh nos mostra, em suas "Cartas", sua luta para melhorar, sua insistência. O resultado já sabemos.

Gosto dessa idéia, a arte como fruto da disciplina e da vontade. Acho que colocar tudo no "talento" é ser elitista: é separar a humanidade em quem é artista e quem não é. Uma coisa fatalista, determinista.

Não quero dizer que o talento não exista, ou que não seja importante, e sim que o talento nasce no trabalho, no esforço. Há pessoas com aptidões naturais, maiores propensões a determinadas atividades- aqui mesmo falo em talentos cerceados. O que quero dizer é que as portas estão abertas, a quem quiser burilar suas inclinações. Claro que há talentos inatos- mas quem explica isso? Mozart, brilhante com cinco anos, é uma exceção. A massa é composta de "operários da arte".

Enfim, penso mais ou menos como Óssip Brik, que "afirmava que o talento não nascia de forma espontânea, assim como o Kazbek ou o mar Negro, mas se formava durante o trabalho, ou seja, negava a natureza inata do talento" (Aleksandr Mikhailov, "Maiakovski- o poeta da revolução").

2 comentários:

  1. “Talento é inato ou se aprende?” É um assunto bastante polemico,Tejo.

    Eu acredito que não é só isso, nem só aquilo, ou seja, tem um pouco (ou muito) de cada (aptidão e aprendizado) – há no indivíduo uma habilidade, inclinação de fazer bem algo, (que lhe dá prazer) mas que é preciso ser estimulado pela prática e dedicação, para que assim, obtenha-se êxito no exercício...

    Abraços. Marli.

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  2. Concordo: tudo parte de uma inclinação natural. Sem tal inclinação, o indivíduo não estaria voltado para determinada atividade, isto é, sequer começaria. Tal inclinação, por sua vez, é estimulada, como você diz, pela prática e dedicação.

    O que refuto, como dito, é a crença em um "dom" misterioso, inato, separando os poucos eleitos talentosos de nascença da massa dos não-talentosos, digamos assim.

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