
Também as cartas de Maiakovsky a Lília Brik emocionam; na verdade, quaisquer cartas emocionam, pois não é possível adentrar a intimidade alheia sem que se identifique com o remetente. Partilhamos assim das mesmas dores, sensações, angústias em um exercício, é preciso dizer, de pura indiscrição. Mas uma indiscrição comovente, doce, e ei-nos íntimos do devassado.
Hoje em dia é
email. Será que os
emails trocados -tantos anseios- são guardados, conservados, para publicação
post mortem? Arquivos e mais arquivos desnudados aos olhos do público, a quem interessar possa. O triste é que email não tenha um pingo da densidade dramática de uma carta do passado. À base do "pq vc naum" assassinamos a língua e, de forma telegráfica, levamos adiante os sentimentos estropiados. Saramago, que tem um
blog, ao falar do twitter (que permite mensagens de até 140 toques), lembrou que o ser humano caminha para o monossílabo, e que, de "degrau em degrau, caminhamos para o grunhido".