Também as cartas de Maiakovsky a Lília Brik emocionam; na verdade, quaisquer cartas emocionam, pois não é possível adentrar a intimidade alheia sem que se identifique com o remetente. Partilhamos assim das mesmas dores, sensações, angústias em um exercício, é preciso dizer, de pura indiscrição. Mas uma indiscrição comovente, doce, e ei-nos íntimos do devassado.
Hoje em dia é email. Será que os emails trocados -tantos anseios- são guardados, conservados, para publicação post mortem? Arquivos e mais arquivos desnudados aos olhos do público, a quem interessar possa. O triste é que email não tenha um pingo da densidade dramática de uma carta do passado. À base do "pq vc naum" assassinamos a língua e, de forma telegráfica, levamos adiante os sentimentos estropiados. Saramago, que tem um blog, ao falar do twitter (que permite mensagens de até 140 toques), lembrou que o ser humano caminha para o monossílabo, e que, de "degrau em degrau, caminhamos para o grunhido".
Mas há que se adaptar aos tempos. Marx hoje não utilizaria a Gazeta Renana, e sim algum blog; as polêmicas se dariam no orkut, e sem dúvida seria movimentada a caixa de emails dos irmãos Vincent e Théo. Muito mais ágil e prático. Mas é pena, decerto, que essa praticidade venha em prejuízo da qualidade da comunicação
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Discordo da análise da MaisValia nº 2, de março/junho de 2008, publicação trotskista, sobre Lukács. Não falo de seu suposto stalinismo, das críticas a seu revisionismo etc., e sim de sua opção pela vida acadêmica em oposição à luta prática- a revista coloca isso como defeito. Entendo eu que o discurso não pode se afastar da prática, e que, se sem teoria não há prática, é porque o fim da teoria é justamente a prática. Mas os comunistas, que temos por princípio o respeito à individualidade (e não individualismo, e falamos disso aqui), devemos estar abertos às escolhas e opções pessoais. Não por acaso há o corolário do comunismo do de cada um de acordo com sua capacidade. Uns são chamados para a sala de aula, outros às armas, outros ao discurso. Todos, com sua vocação, colaboram, à sua maneira.
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Na imagem, Maiakovsky com Lília Brik, a destinatária de tantas missivas suas.
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