É dito que a felicidade é a coincidência entre o que se VIVE e o que se DESEJA. O que se vive é objetivo; não se pode mudá-lo pela força de vontade (falamos disso em Base e superestrutura. E Chopin). Mas a sua identidade com aquilo que queremos é, se não impossível, raro. Como evitar a infelicidade, então, já que não podemos mudar a realidade objetiva? A solução seria não desejar. A saída budista, que vê no "apego" a raiz do sofrimento.
O que pega aí é que, penso eu, sem DESEJO, o mundo não avança.
Já falamos: o problema material deve encontrar uma solução material. Mas é o impulso, vale dizer, a vontade de homens conscientes que criará a solução. O "não-querer" é a inação. O universo não é estático- avança, avança, quando pára de andar é porque morreu, como diz Engels no "Anti-Dühring".
O "não-querer" é, penso eu, contrarrevolucionário.
Mas e sofrer? Se se quer e não se tem?
Maiakovsky, sobre o coração:
Nos demais
- eu sei, qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração - em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga acumulada torna-se
simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
deveras.
Há que querer. Mesmo que não se consiga. Há que querer. Quero.
*
Mas, por pura provocação dialética, a imagem do post será Fernando Pessoa que, como Alberto Caeiro, disse exatamente o contrário:
Se eu morrer muito novo, ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não tem sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva
— Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Reflexiva sua explanação. Freud dizia: “O desejo é a falta”. Na vida estamos sempre procurando conquistar algo mais, isso é fato, e não vai mudar. No entanto devemos nos ater a advertência de Vicente de Carvalho, a respeito da FELICIDADE, quando disse:
ResponderExcluir“Essa felicidade que supomos/
Árvore milagrosa que sonhamos/
Toda arredada de dourados pomos/
Existe sim: mas nós não a alcançamos,/
Porque está sempre apenas onde a pomos/
E nunca a pomos onde nós estamos”.
Grande abraço Tejo... Desejo-te muitas felicidades!!
Marli
Muito bom, Marli. Talvez esse assunto acabe por se relacionar com a questão do "O velho e o mar", que debatemos. A felicidade deve estar não no peixe, e sim na pescaria.
ResponderExcluirVoce tem razão, esse assunto está ligado àquela questão sim. Reforçando suas palavras – “O prazer está no ‘percurso’ (pescaria), e não no ‘objetivo’ (peixe)”. De repente nos deparamos com a felicidade em uma das subidas ou descidas que farão parte de nossa caminhada, e não exatamente na linha de chegada. Abs...
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