30 de jul. de 2009

Marxismo e Religião

Na "Introdução à Crítica da Filosofica do Direito de Hegel", Marx diz: "A crítica da religião é a premissa de toda crítica". "A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião". A religião é a "teoria geral deste mundo", de modo que a "luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo que tem na religião seu aroma espiritual".

Entendo que uma leitura reducionista leva essa "luta contra religião" ao pé da letra, como se religião fosse NECESSARIAMENTE deletéria. Religião é superestrutura, sabemos; a questão que surge é, portanto, saber se a superestrutura tem caráter independente da base.

Dizer que a religião é "má" é dar à superestrutura, assim, uma natureza "imutável", o que seria justamente uma postura IDEALISTA e não MATERIALISTA DIALÉTICA.

A religião, como qualquer fenômeno de superestrutura, vai seguir os influxos da base material.

O próprio Marx (ibidem) diz: "A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela".

Ou seja, a religião como PROTESTO EM FACE DA MISÉRIA REAL. Protesto esse que, se devidamente canalizado, adquire caráter até mesmo revolucionário. Daí Roger Garaudy dizer que a religião, em determinadas condições histórico-materiais, pode ser fermento e não ópio.

Exemplo do viés progressista da religião encontramos na Teologia da Libertação, nos padres de esquerda perseguidos nos anos 70 pelos esquadrões da morte na América Latina etc.

Luigi Bordin, em "O Marxismo e a Teologia da Libertação", assim diz:

"Foi a partir de um empenho revolucionário que muitos cristãos chegaram a encontrar no marxismo uma teoria que parecia responder às exigências científicas de análise do sistema capitalista, de um projeto alternativo, de uma estratégia consequente (...) Em consequência disso, também os cristão engajados nos movimentos sociais, proletários e populares, começaram a posicionar-se perante o marxismo não mais considerando-o como o pensamento 'dos outros', mas como um campo teórico que devia ser coerente e racionalmente assumido, e emfunção do qual deviam redefinir suas posições práticas e teóricas".

A práxis, que é o critério da verdade, nos leva à seguinte conclusão: é preferível um religioso revolucionário a um "marxista" reformista.

Voltando a Marx:

"A verdadeira felicidade do povo implica que a religião seja suprimida, enquanto felicidade ilusória do povo. A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões".

A religião deve ser suprimida enquanto felicidade ilusória. Mas as alienações, todas elas, não se subsumem à religião. A ilusão (estado de alienação, não-identificação com o mundo) deve ser ela toda extirpada, não só na religião mas em todos os aspectos da vida humana.

Atacar a religião, portanto, é como atacar as artes, a filosofia, a literatura, o Direito. Isto é, o efeito e não a causa; é como golpear o ar.

Mudando a base, muda a religião. Ópio ou fermento, conforme o contexto.

3 comentários:

  1. Um advogado de esquerda é mais raro que um mico leão dourado.
    Hehehehe

    Maiakovsky?
    Como aconteceu essa ponte entre meu blog e ele?

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  2. Caro Tejo:

    Saudações comunistas!

    Eu sou cristão e faz pouco mais de um ano que ingressei na militância do PCB. Senti-me premiado por esse seu artigo. Nenhuma observação tenho a fazer, apenas posso elogiar sua coerência e inteligência.

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  3. Obrigado, Fernando. Neste post o tema também é tratado: http://elogiodadialetica.blogspot.com/2010/04/sobre-cristianismo-e-revolucao.html

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