19 de jul. de 2009

O camelô, a Guarda e a arte que foge

O camelô vende alegria. Não é exagero dizer isso: o que é música, o que são doces, senão alegria? Filmes também são alegria. Não há arte -se for mesmo arte- que não traga alegria. Vender arte é por conseguinte vender alegria. E não importa se essa alegria não é "legalizada". Por acaso é possível regular a alegria? Arte é território isento de normas; uma vez nascida do espírito, voa livre, e é impossível retê-la, cerceá-la, onerá-la. A internet prova isso.

Enquanto o camelô vende alegria, o guarda cassa a alegria. Diz que faz isso por não ser "legal". O guarda é fascista: não quer alegria acessível, nas calçadas da cidade, barata. Três por dez. Não é senão o povo o beneficiado com isso. Não é senão o povo o consumidor dessa alegria. Mas o guarda não quer isso. E bota o camelô pra correr.

Não é culpa do guarda, na verdade. E sim do sistema por trás dele. O sistema, próprio dos nosso dias, que faz da arte (vale dizer, da alegria) um produto de mercado, caro, tributado, pesado. Um produto que faz lucro! Quem tem lucro com a alegria não a quer nas ruas da cidade.

Esse é o sistema de nossos dias. É preciso um sistema novo, onde a arte -livre, límpida, acessível, fácil- seja disponibilizada para todos. Sem lucros. Sem perseguições. Enquanto isso não se dá, foge a alegria, nas mãos do camelô com seu olhar assustado -olhar de quem está na iminência de perder o sustento da família- perseguido pelas botas fascistas da Guarda Municipal.

5 comentários:

  1. Não é bem o guarda que não quer o camêlo nas ruas, acho que deveriamos saber disso.
    Acho que o guarda nem sabe que esta se tornando um fascista, e isso me leva a pensar que a vida dele também é bem miserável.
    No mais, muitas das "alegrias" que o camelô vende, vem do trabalho escravo de milhões de crianças. Cuidado com as alegrias, isso jamais é arte livre, jamais.
    Vale dizer também que muitos donos de máfias de cd pirata, são os mesmos das grandes gravadoras. De novo, onde isso é livre?

    ps; caçar é com ç

    um abraço!

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  2. Bebel, querida, usei "cassar" mesmo.

    No Silveira Bueno: "Cassar. v.t. Anular (licença concedida), tornar sem efeito".

    Beijo =)

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  3. O camelô é vítima da falta de emprego, é a situação do nosso país... Hoje, na minha cidade tem um camelódromo, um espaço reservado para o comércio ambulante, é tudo bem organizadinho, tem número de lojas e tudo mais... deve haver algum tipo de licença para trabalharem, não sei como funciona, mas ninguém mexe com eles ali, é direito conquistado... eu aprovo! Abraços. Marli.

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  4. Se o sistema não dá espaço, o indivíduo precisa se virar pra sobreviver. Mas, ao contrário, vemos é uma política de criminalização dos trabalhadores.

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