23 de set. de 2008

Versos de biblioteca

Enquanto esperamos os livros, vem um certo tédio. A ansiedade pelo estudo, de um lado, e a monotonia da espera, de outro. Daí, aproveitando o silêncio, é possível que a musa cante despretensiosamente:

Silêncio
Zumbido chiado ar-condicionado
Vento que entra
Mulata ao lado
Que desconcerta
O Aliomar Baleeiro
Que fica
De lado.


Mas essa pequena poesia tem uma licença poética: a "mulata ao lado", que de fato havia, não era -infelizmente- das desconcertáveis...Já o Aliomar Baleeiro, ícone do Direito Financeiro, ficou meio deslocado. Talvez não seja lírico, o nome. Em outra ocasião:

Não estou aqui
Em verdade
Mas nos Andes
Cordilheira
Altaneiro condor
Em fuga, em fuga
A mediocridade
Está no encalço.


Por que Andes? Pareceu-me o lugar mais remoto no momento. Quando se pensa em distância, se quer ir a fundo- e nada como se perder em montanhas de gelo. Mas "altaneiro condor" é muito lugar-comum, o que reduz a carga lírica. Já a mediocridade no encalço é um medo, um pavor atávico. Fujamos disso como o diabo da cruz.

Isso tudo, na Biblioteca Nacional, Cinelândia. Que já é um poema ela própria.

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