22 de jun. de 2006

Revolução permanente

"É por este motivo que Stálin precisava vê-lo morto: porque o poder nas mãos do manipulador vai ao extremo da morte, e o estilo dialético é vida, portanto, um inimigo", diz Nicholas Mosley ("O assassinato de Trotsky"). Decerto "dialética" é um adjetivo adequado à personalidade do camarada Lev Bronstein: dono de raciocínio claro, amante do debate, às vezes contraditório, de fina erudição. Figura ímpar da Revolução de Outubro. Em John Reed ("Os dez dias que abalaram o mundo"), não raro temos a impressão de tê-lo como da mesma importância que Lênin. Criador do Exército Vermelho, nos anos desesperançados de guerra civil e intervenção estrangeira. Não obstante, foi vítima da máquina burocrática stalinista: em meio a um turbilhão de calúnias e difamação, ei-lo riscado dos anais da História.

Mas falemos da contribuição-mor de Trotsky à teoria revolucionária. O que nos diz a tese da revolução permanente? O que nos inculca, aliás? A convicção de que se pode fazer a revolução agora- desde já. Ora, o materialismo dialético ensina-nos que um sistema econômico cede o espaço a outro, conforme venha a ceder diante de suas próprias contradições. Uma mentalidade mais ortodoxa estaria inclinada a só admitir a revolução socialista num cenário de capitalismo desenvolvido. Mas -e é essa a chave- há capitalismos e capitalismos: uns mais ou menos fortes. Insípido, conforme o caso, mas já capitalismo, já possui um proletariado- já possui agentes para a revolução, mesmo que em minoria. "(...)A revolução venceria muito antes que a maioria da nação se transformasse em proletários ", explica Isaac Deustcher ("Trotski- o profeta armado"). E tal revolução passará necessariamente pela superação das velhas formas feudais, em um caráter primeiramente burguês, e continuará, permanecerá sua atuação, já como revolução socialista.

Além desse primeiro aspecto, há o segundo: a revolução deve ser internacional. Os fatos demonstram o acerto dessa assertiva. A degeneração burocrática soviética, no passado, e o isolamento atual de Cuba (amenizado pelas recentes relações com a Venezuela bolivariana) mostram que nenhuma revolução pode se manter sozinha.

2 comentários:

  1. Mas se a revolução global triunfurá não estaríamos falando de um um modelo-sistema 'totalitário'?

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  2. Pelo contrário, será o fim do próprio "Estado" enquanto tal.

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