8 de abr. de 2007

Da questão ambiental

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As previsões são ruins. O que os jornais nos trazem são notícias de desintegração planetária, lenta e imperceptível, no início, mas que atingirá o paroxismo num decurso de poucas dezenas de décadas. Nossos filhos ou os filhos de nossos filhos herdarão um planeta diferente, árido, inóspito, macabro, cruel, raivoso, fedendo a ácido sulfúrico misturado a enxofre. Algo como um cenário de ficção científica nada otimista. Com a diferença, naturalmente, de que a ficção passará longe.

A depredação do meio ambiente pelo Homem é decorrente do próprio incremento da técnica. Dominar o meio, coisa que os ancestrais fizeram, pressupõe adaptá-lo, alterá-lo, enfim, colocar um rumo estranho àquilo que a natureza faria a seu modo. É inevitável, mas é preciso- a sobrevivência da espécie depende disso. Mas algo de pequena escala irá se agravar conforme a técnica aumente; e ei-nos em plena Revolução Industrial, e o carvão começa a poluir os ares.

7 de dez. de 2006

"A propósito disto", em três curtos atos

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1
Converso com ela pelo ciberespaço. Através de íons, elétrons, prótons, quarks, raios gama e x, pela nuvem de neutrinos, temos a nossa conversação- e é através desse meio fluídico que trocamos palavras de amor. Sim, pois já não resta dúvidas de que estamos apaixonados, o turbilhão cósmico já nos capturou, é a deusa Vênus que nos embala no leito.
2
Estive mais cedo na feira de livros. No vento gelado que entrava pela roupa, em meio a livros de vodu, xadrez, materialismo dialético, romances de Sholokhov, em tudo sinto a presença dela. "Também pensa em mim?", suspiro bem suavemente no canto da mente. Não é mais no ciberespaço, mas através do fluido vital, ali mesmo, naquele exato momento, que nos tocamos.

30 de out. de 2006

O guardador de carros

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O cenário do final de noite era uma barraquinha de churrasquinho, alguns bancos de plástico e o carro do dono do negócio, entoando um sertanejo alto apesar do avançado da hora. À base de muita cerveja, já estávamos naquele estágio etílico onde a letargia nos domina preguiçosamente e, em silêncio, meditamos nos assuntos da vida como só um bêbado pode fazer.

Então ele chega, animado, dançando, cantando, mexendo com todo mundo. Parece um morador de rua, mas é apenas um guardador de carros do bairro aproveitando, naquele momento, um curto período de folga. Fala conosco. Estava alcoolizado, o que tornava suas falas quase sem sentido, tornando-lhe a princípio uma companhia incômoda, mas estávamos nós também tomados daquela ternura alcoólica, onde o mundo parece bom e os homens, todos irmãos- já tendo dito, a propósito, Baudelaire, que o homem bom que bebe se torna excelente. E observamos, assim, sem maiores complicações, as evoluções do novo companheiro.