Começo o ano com uma postagem pouco confortável: o tema é o Haiti. O desconforto não é pelo país nem pelo seu povo- ao contrário, são heróicos. O primeiro país do mundo onde os escravos eliminaram a escravidão- os próprios escravos, sem concessões e esmolas dos senhores. Um povo que, corajosamente, arrancou a liberdade das mãos do explorador. Um povo solidário: ao lá desembarcar, em suas jornadas pela libertação da América espanhola, Bolívar precisou se comprometer com o fim da escravidão nos países que viessem a ser libertados, como condição para receber o suporte do povo haitiano. Portanto, quando falo em desconforto quando falamos do Haiti, não me refiro ao seu povo.
Também não me refiro ao terremoto. É um fenômeno da natureza- e a natureza tem suas idiossincrasias. Fenômenos naturais existem desde sempre, e a única coisa que nos cabe é tentar minorar seus efeitos.
Sentimos desconforto, quando falamos no Haiti, porque ali a face do imperialismo aparece clara, cruel. O Haiti, solidário com as lutas dos povos oprimidos, foi ele próprio, oprimido ab initio, abandonado à própria sorte. Uma pesada indenização à França, para que pudesse por fim ter sua independência reconhecida. Como é dito neste artigo, "a República negra sofreu boicotes desde seu início e tornou-se um 'encrave negro'". As forças conservadoras não poderiam jamais admitir isso. Independência, e de negros! Negros decidindo a própria sorte. Onde, isso? Em outro artigo, Eduardo Galeano bem lembra que a "história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental".
Assim o país seguiu sua História, na miséria, de ditador em ditador, e sofrendo ocupações militares. A mais recente é chefiada pelo Brasil, à frente da MINUSTAH, desempenhando o constrangedor papel imperialista- sob pretexto de "ajuda humanitária" (mais, aqui).
Vergonhosamente, o Haiti tem sido humilhado. Paga o preço por ter ousado enfrentar o imperialismo, séculos atrás. Mas o imperialismo -que adotou outras formas, mas é o mesmo- não perdoa e, ainda hoje, tem se vingado.
Primeiro. Um bom ano para ti caro amigo! Agora quero discorrer sobre o que escreveu, sim, concordo plenamente e digo que este artigo está entre um dos mais coerentes que li. Isso, pelo fato de que não culpaste a "Terra" pelo ocorrido, e nem vieste com devaneios de que poderíamos ter impedido se não tivessemos desafeiçoado tanto a face do planeta, e muito menos deu um parecer como se a miséria surgira após a catástrofe.
ResponderExcluirO acidente é social, é racial, o terremoto é político e irracional. Antes mesmo do chão tremer milhares de corpos já tremiam de fome, e se o mundo se mobilizou para resolver o efeito do tremor, por que antes não se juntaram para resolverem a questão histórica de rejeição mundial?
Assim, como fazem com os africanos, é necessário o céu vir abaixo para que o mundo reconheça e enxerga suas maiorias...
É comovente a ação dos países solidários, mas apenas questiono o por que demoraram tanto para verem que existia vida ali.
Excelente 2010 para todos nós, Velho Marujo.
ResponderExcluirQuanto ao post: a natureza é o que é. O problema (e a solução) está em nós, seres humanos.
Saludos,