"Cemetry gates" me remete a 1996, que foi quando ouvi "The Queen is dead" pela primeira vez. Comecei a ouvir os 80's não propriamente nos 80's, mas sim com quase uma década de atraso. Não faz mal: cá estamos nós, antes de irmos para o Empório, em Ipanema, ouvindo The Smiths derramando aquela poesia toda. Poesia mesmo: a letra, uma das mais líricas que já vi, é nada mais nada menos que um passeio, portas do cemitério adentro, por entre túmulos de antigos poetas. A voz peculiar de Morrissey (que vulgarmente chamamos de "estar com um ovo na boca") carrega no "Waaalllde", referência ao seu Oscar querido, ao passo que também Keats e Yeats aparecem, em espírito, pelo menos.
Oscar Wilde já é citado no blog, em uma postagem sobre seu "A alma do homem sob o socialismo". Era não apenas poeta e dramaturgo, mas também um sujeito politizado, como se vê; terminou seus dias humilhado e degradado, condenado que fora por sodomia, crime na Inglaterra vitoriana. William Butler Yeats (1865- 1939) foi um poeta irlandês, e John Keats (1795- 1821), inglês, ambos referências de Morrissey. As letras dos Smiths são sempre recheadas de referências literárias ou históricas, como por exemplo Joana D'Arc em "Big mouth strikes again" e Antônio e Cleópatra em "Some girls are bigger than others". Música culta e pop ao mesmo tempo, portanto, diferente das banalidades dos últimos 20 anos.