Mais que um leigo, sou um bárbaro: pouco sei de música clássica. Talvez por isso eu seja atingido com mais facilidade, talvez por isso faltem palavras e assome o espanto, tal qual um primitivo diante do que seja -aos seus olhos- inefável. Como agora: estou deitado na cama, e ouço algo. É Bach? Sim, mas poderia ser música de fada. Suíte nº3, ária na corda sol *. Já agora estou diante do computador, e ainda ouço: impossível não sentir o peso no coração, a quase dor física que nos faz contrair o rosto em aflição, quando as notas entram rasgando suaves, quando somos soterrados pelo vagalhão de melodia que nos lembra de qualquer coisa remota, mas lembra.