Mais que um leigo, sou um bárbaro: pouco sei de música clássica. Talvez por isso eu seja atingido com mais facilidade, talvez por isso faltem palavras e assome o espanto, tal qual um primitivo diante do que seja -aos seus olhos- inefável. Como agora: estou deitado na cama, e ouço algo. É Bach? Sim, mas poderia ser música de fada. Suíte nº3, ária na corda sol *. Já agora estou diante do computador, e ainda ouço: impossível não sentir o peso no coração, a quase dor física que nos faz contrair o rosto em aflição, quando as notas entram rasgando suaves, quando somos soterrados pelo vagalhão de melodia que nos lembra de qualquer coisa remota, mas lembra.
Poderia dizer que é mediúnico, mas é a nossa própria alma que se abre, as outras presenças que se mostram são aquelas do inconsciente libertadas pela melodia. Mas é possível -creio ser possível- que nesse momento se rasguem as fronteiras entre os mundos, e o acesso ao outro lado se torne palpável. E foi pensando nisso que escrevi o seguinte poema**, a propósito daquele outro mago, Wolfgang Amadeus:
Solto ao vento
Teu pensamento foge
Veloz, esquivo
Rumo às esferas mais altas
Sem se deter
E nos astros
Situa sua residência.
É espantoso
Que o simples ouvir acordes
Opere milagres
E, como chave de prata
Seja para a alma cativa
A redenção.
E notem que já li, nas "Obras Póstumas" de Kardec que -se dermos crédito a isso- a nossa música nada é comparada à elaborada em esferas mais altas. Parece -ainda se assim se nisso acreditarmos- natural. Ser incompleto, o homem produz de acordo com sua condição. Mas, enquanto não nos é dada a perfeição de lá, absorvamos a perfeição daqui- e Bach, do alto de minha ignorância de leigo, aproxima-se dela. Ao menos nesse momento, quando as notas entram rasgando suaves e a dor aperta o coração.
* BWV 1068
** "Ouvindo Mozart", de minha autoria. Em breve encomendarei uma tiragem com meus poemas, para presentear os amigos.
Poderia dizer que é mediúnico, mas é a nossa própria alma que se abre, as outras presenças que se mostram são aquelas do inconsciente libertadas pela melodia. Mas é possível -creio ser possível- que nesse momento se rasguem as fronteiras entre os mundos, e o acesso ao outro lado se torne palpável. E foi pensando nisso que escrevi o seguinte poema**, a propósito daquele outro mago, Wolfgang Amadeus:
Solto ao vento
Teu pensamento foge
Veloz, esquivo
Rumo às esferas mais altas
Sem se deter
E nos astros
Situa sua residência.
É espantoso
Que o simples ouvir acordes
Opere milagres
E, como chave de prata
Seja para a alma cativa
A redenção.
E notem que já li, nas "Obras Póstumas" de Kardec que -se dermos crédito a isso- a nossa música nada é comparada à elaborada em esferas mais altas. Parece -ainda se assim se nisso acreditarmos- natural. Ser incompleto, o homem produz de acordo com sua condição. Mas, enquanto não nos é dada a perfeição de lá, absorvamos a perfeição daqui- e Bach, do alto de minha ignorância de leigo, aproxima-se dela. Ao menos nesse momento, quando as notas entram rasgando suaves e a dor aperta o coração.
* BWV 1068
** "Ouvindo Mozart", de minha autoria. Em breve encomendarei uma tiragem com meus poemas, para presentear os amigos.
Refinadíssimo seu poema. A música realmente é inspiradora. Bravo, adorei! Abraços.
ResponderExcluirMarli.
Obrigado, Marli. A ideia que quis passar é: a música liberta. Quem ouve, se sente livre. O mote foi Mozart, mas se adequa a tudo que nos toca.
ResponderExcluirTejo, muito belo o que escreveu.
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