Roger Garaudy fala do integrismo, como sendo a pretensão de possuir a verdade absoluta. Para Garaudy, o islamismo é a versão integrista do islã, assim como, na política, o esquerdismo (o famoso "complexo de vestal") é a doença infantil do comunismo, na expressão de Lênin. Pois bem, digo com todas as letras: a religião é a doença infantil da religiosidade.
A religião aprisiona o espírito em um conjunto cerrado de conceitos, de dogmas, de fundamentos (fundamentalismo?). Religião é a ortodoxia, é a visão única, é o maniqueísmo ("ou está conosco ou não está"), o reducionismo- enfim, tudo o que a religiosidade não é.
Não é um fenômeno atinente a uma crença específica. Os muçulmanos, coitados, tão associados ao fundamentalismo, no passado foram um exemplo de tolerância; mas é claro que o mundo muçulmano é repleto de integrismo. Assim como entre os cristãos (não é preciso retroceder à inquisição católica do passado, basta que lembremos, bem recentemente mesmo, o caso do centro umbandista depredado por membros de uma igreja evangélica no Catete, Rio de Janeiro) e entre budistas, e hindus, etc. etc. ad nauseam. É sintomático, para utilizarmos como exemplo um fenômeno atual, o Orkut, que umas das maiores demonstrações de intolerância eu tenha presenciado em comunidades de teor religioso. Baixarias, guerra de egos, donos da verdade, irreverência pouco sadia, todo um cabedal de comportamentos nada, hum, religiosos.
De minha parte, acredito que o espirito humano -sem que caiamos no idealismo; espírito, como conjunto de pendores, inclinações, potencialidades, anseios, características e qualidades que compõem o homem- é muito rico, muito vasto, para ser limitado por meia dúzia de dogmas. O processo histórico do desenvolvimento humano trouxe à luz uma infindável gama de manifestações religiosas. Os homens, frutos desse processo (Gramsci: é preciso que nos conheçamos, é preciso fazer o inventário daquilo que nós, produto histórico, somos) podem, e devem, tomar posse de toda essa diversidade.
Religiosidade é isso: a abertura à toda riqueza espiritual que nos é legada, que não pode ficar adstrita a um livro, a um rito, a um conjunto de tradições. Bruce Lawrence chama o Corão de "Um Livro de Sinais". Sim, "um", e jamais "o"; pois não há revelação absoluta. Toda crença humana traz sua verdade, mais ou menos certeira, e é apenas do cotejo entre todas elas, extraindo o que serve, e repelindo o que é ultrapassado, arcaico ou impreciso -o juiz disso é o próprio coração- que se pode chegar, pouco que seja, próximo da verdade.
Se é que existe alguma verdade.
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A imagem do post é mais uma das pérolas de sadismo da inquisição.
direitismo doença infantil do pós modernismo
ResponderExcluirReligião torna-se apego. O apego, dependência. A dependência, medo. O medo, raiva. Já a raiva torna-se "religiosidade" arrogante naquele tópico.
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