7 de dez. de 2006

"A propósito disto", em três curtos atos

1
Converso com ela pelo ciberespaço. Através de íons, elétrons, prótons, quarks, raios gama e x, pela nuvem de neutrinos, temos a nossa conversação- e é através desse meio fluídico que trocamos palavras de amor. Sim, pois já não resta dúvidas de que estamos apaixonados, o turbilhão cósmico já nos capturou, é a deusa Vênus que nos embala no leito.
2
Estive mais cedo na feira de livros. No vento gelado que entrava pela roupa, em meio a livros de vodu, xadrez, materialismo dialético, romances de Sholokhov, em tudo sinto a presença dela. "Também pensa em mim?", suspiro bem suavemente no canto da mente. Não é mais no ciberespaço, mas através do fluido vital, ali mesmo, naquele exato momento, que nos tocamos.
3
Já nada tenho a oferecer. As cinzas cobrem as brasas, o silêncio ao redor é absoluto. Meditamos no passado: através do espaço-tempo, na orla sombria do universo, é possível encontrar a resposta. Meteórico, talvez, abrupto, seguramente. Estranho, diferente. Utópico. Mas intenso- e isso basta. De chama em chama, ainda que fugaz, iluminamos a estrada da vida. Só os covardes preferem seguir no escuro, só os covardes temem as chamas.

*

"A propósito disto" é como Carrera Guerra batizou um dos poemas de Maiakovsky ("Про Это"), sendo que o "disto" nada mais é que o amor. O poema é sobre amor, e os meus três curtos, pequenos e mesquinhos atos acima também.

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