Uma coisa interessante em Dmitri Shostakovitch (1906- 1975) -e que serve para desconcertar os reacionários- é o fato de ter, até o final da vida, se mantido junto do Estado soviético. Poderia ter fugido; poderia ter desertado e ido fazer fortuna no Ocidente- oportunidades para isso teve, afinal. Mas Shostakovitch tomou outro rumo.
Naturalmente, após a fase áurea de Lunatcharsky, as artes soviéticas entraram em um momento delicado, não tendo sido o cenário ideal para um artista. Independentemente de causas ou explicações, seria hipocrisia negar isso. Maiakovsky também foi dos que se ressentiram disso, e a censura sobre a atividade artística em voga pode ter sido um dos elementos a mais em sua opção pelo suicídio (Maiakovsky se matou por amor, sabemos, mas claro que as críticas que pululavam -"Maiakovsky é incompreensível para as massas!"- tinham o condão de fragilizar ainda mais uma personalidade deprimida).